Deutsche Bank, Banco Todo-o-Terreno

sexta-feira, 13 de março de 2009

Realmente é com inveja que algumas instituições financeiras deverão olhar para o Deutsche Bank, dada a sua polivalência nas mais variadas áreas da economia, da agricultura, da cultura, etc...

Já em 2008 tinha tropeçado num artigo, na altura sobre o mercado dos cereais, quando passava os olhos pelas noticias provenientes do outro lado do Atlântico, concretamente do Brasil. Na época li esta noticia, no sitio da Agência Lusa Brasileira onde o texto começava com a informação de que tinham contactado vários especialistas da área, leia-se agricultura, e onde o Deutsche Bank era referenciado.

Nesse mesmo periodo pude ver replicado num sítio nacional do sector da Agricultura, o Agroportal, o mesmo conteúdo.

Esta semana li, com perplexidade, que a dinâmica continua, desta vez opinam enquanto especialistas, atentem bem, no sector das carnes, nomeadamente sobre o frango. Tal artigo está não só replicado em Portugal, na publicação especializada HiperSuper, mas também pude encontrar esta informação em Espanhol num Instituto tutelado pelo Governo Vizinho, em concreto o ICEX - Instituto Espanhol de Comércio Externo.

Se a estas noticias, incluirmos a sua vertente bancária, financeira, influenciadora de índices bolsistas (cortam e sobem preços alvo de empresas cotadas), e mais recentemente Entidade Oficial nomeada pelo Governo do Engº Sócrates para Avaliar as contas do escândalo BPN, poderemos afirmar que estamos perante um verdadeiro Banco Todo-o-Terreno.

No meio de tão vasto conhecimento sectorial, uma dúvida me assola, como é que conseguem opinar com tão alto grau de conhecimento e não conseguem governar a sua própria casa ao terminarem o ano de 2008 com 3,8 mil milhões de euros de prejuizo nas suas contas.

É caso para dizer que o dinheiro dos outros governo eu bem...

VAMOS CRIAR UM “QUADRO DE ÉTICA GOVERNATIVA”

Segundo noticia hoje o “Jornal Público”, o auditor da Energias de Portugal (EDP) Vítor Franco, demitiu-se por discordar de algumas regras aplicadas na contabilidade da eléctrica em 2008, tendo apresentado a sua demissão do conselho geral e de supervisão (CGS) da EDP e da comissão de auditoria interna, onde exercia funções desde 2006 como membro independente.

O jornal revela que a demissão está relacionada com divergências de fundo quanto o modo como a operadora registou nas contas de 2008 os ganhos de 405 milhões de euros obtidos com a dispersão em bolsa de 25 por cento do capital das EDP Renováveis, em Junho do ano passado, informando Aida que a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que é o regulador do mercado está a acompanhar o caso.

Ora duas situações se colocam:

1º - Ou a EDP aplicou correctamente as regras contabilísticas e o assunto termina aqui

2º - Ou aconteceu o contrário e o auditor deixou de receber o seu vencimento na EDP, sendo que esta tem sido a prática corrente para tudo fique na mesma, ou seja não haverá apuramento de quaisquer responsabilidades e afasta-se uma voz incómoda.

Face à situação que vivemos e a comprovarem-se os motivos da demissão deste auditor, este deveria passar a fazer parte de um “QUADRO DE ÉTICA GOVERNATIVA”, o qual deveria ser criado pelo poder público e escrutinado nomeadamente pela opinião pública.

Neste tempo de desconfiança e de falta de ética em que vivemos, nomeadamente no sector financeiro, poderíamos aqui ter uma boa oportunidade para começar a restaurar a confiança da opinião pública.

O Governo, as Empresas públicas ou privadas e demais Instituições, poderiam recorrer a este quadro de PERSONALIDADES e passar a nomeá-los para as suas administrações, dando-lhes o comportamento ético que tantas vezes lhes falta.

Deixaríamos assim de estar dependentes exclusivamente da política partidária, premiando antes todos aqueles que, pela sua actuação profissional e pessoal, foram capazes de demonstrar que só o regresso da ética pode resolver a actual crise financeira e de confiança em que nos encontramos.

Miguel M.



Em Portugal Como Será

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O Deutsche Bank acaba de anunciar na Alemanha que teve em 2008 um prejuízo de 3.9 biliões de Euros, pela primeira vez em 50 anos.

Em Portugal a comunicação social tem anunciado:

  1. Queixas sobre irregularidades nas contas reportadas ao Banco de Portugal,
  2. Que a CMVM admite multar o Banco por irregularidades,
  3. A falência dos seus parceiros Promotores face à sua actuação,
  4. Diversos processos já entrados em tribunal, sendo que com toda a probabilidade os mesmos tiveram que ser devidamente provisionados,
  5. Múltiplas queixas de clientes,

Talvez ainda venham a aparecer outras situações relevantes, que complementem as referidas anteriormente.

É pois de prever que a situação em Portugal também seja a mesma ou proporcionalmente ainda pior, vamos só aguardar pela divulgação dos resultados e então sim poderemos ver com toda a certeza um “study case” no seu melhor processo de enganar tudo e todos.

M L

RE - INDUSTRIALIZAÇÃO do PAÍS - Uma necessidade Estratégica para Portugal (2ª Parte)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

ÍNDICE


  1. Introdução

  2. Enquadramento histórico ([1][1])

  3. Planos de Fomento e o seu papel na reestruturação da economia

  4. Estudo da OECE sobre Portugal – O Relatório Melander e a sua actualidade

  5. Algumas medidas estruturantes, tomadas na sequência do Relatório

  6. Algumas RECOMENDAÇÕES/PISTAS sobre MEDIDAS para a RE-INDUSTRIALIZAÇÃO do país do Século XXI e sua justificação

  7. 6.1 – Planos de Fomento ou de DesenvolvimentoO que é Estratégia e qual a sua importância

  8. 6.2 – Diagnóstico da situação actual

  9. 6.3 - DESVANTAGENS da situação Geopolítica de Portugal

  10. 6.4 - VANTAGENS POTENCIAIS da situação Geopolítica de Portugal

  11. 7. No que ao ESTADO compete / No que o Estado deve fazer

  12. 7.1. Introdução

  13. 7.2. O FUTURO – Algumas medidas – Identificação de alguns Sectores Industriais ou para – industriais de INVESTIMENTO PRIORITÁRIOS

  14. 7.2.1. A ENERGIA HIDROELÉCTRICA, com reflexos no Estratégico Recurso do Séc. XXI: a Água e na IRRIGAÇÃO dos SOLOS

  15. 7.2.2. A MADEIRA, e os PRODUTOS AGRÍCOLAS utilizados pelas indústrias alimentares

  16. 7.2.3. Um parêntesis para referir que presa com estes factores, falta uma Política Agrícola em Portugal

  17. 7.2.4. Em resumo

  18. 7.2.5. RECURSOS MARINHOS – MARINHA MERCANTE – MARINHA de PESCA – MARINHA de CABOTAGEM – PORTOS

  19. 7.2.6. Considerações gerais

  20. 7.3. Exploração dos Recursos Marinhos – um factor Estratégico

  21. 8. Dois Factores de Estrangulamento do Investimento Industrial de Origem Nacional

  22. 8.1. A BANCA

  23. 8.2. Financiamento de Novos Projectos, Novas Empresas

  24. 9. MECANISMOS SUPLETIVOS DE APOIO á INDÚSTRIA por parte do Estado

  25. 9.1. NOVOS PROJECTOS de INVESTIMENTO

  26. 10. Caracterização sumária da ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL portuguesa média

  27. 11. Outra medida com potencial – exemplo de um Apoio fiscal ao Reinvestimento reprodutivo

  28. 12. Os que nos falta então, mais do que está já enunciado?

  29. 13. Em Resumo



6. Algumas RECOMENDAÇÕES/PISTAS sobre MEDIDAS para a RE-INDUSTRIALIZAÇÃO do país do Século XXI e sua justificação


6.1 – Planos de Fomento ou de Desenvolvimento

Portugal está, há 34 anos, sem Planos de Investimento de Médio e Longo prazos que incluam medidas de cumprimento obrigatório para o sector público e indicativas para o sector privado.

Dir-se-á: o sistema de rotação de pessoas no Poder de Governar, não favorece esse tipo de instrumentos macroeconómicos de planeamento do desenvolvimento sustentado…

Que isto tem servido de “desculpa” sabemo-lo muito bem. Não dá votos, é de incumprimento certo, porque o que vem a seguir acha-se melhor que o anterior, e assim o País vai sendo adiado e vai empobrecendo. Produz cada vez menos, importa cada vez mais, e assim…

É isto inevitável?

Creio que não!

Se houver lugar á criação de instrumentos sólidos e se houver o cuidado que os colocar fora do alcance da nomeação dos “amigos ou clientes políticos”, isso será possível.

Vejamos:

O sector privado encontra-se sem enquadramento macro-económico que permita à iniciativa privada perceber as intenções do poder público sobre a economia e sobre o seu desenvolvimento.

Não tem sido apoiada directa ou indirectamente pelo Estado em termos consistentes que lhe permitam ver os caminhos a seguir para o médio e longo prazos. Apenas, e com o beneplácito da União Europeia (que assim busca legitimidade para avançar para o campo político) tem havido uns programas mal concebidos e pior…mal governados.

Assim, os apoios que têm existido são pontuais e determinados pela conjuntura de cada momento e não numa óptica de desenvolvimento sustentado.

Não tem havido estratégia, apenas táctica, ao sabor das conveniências do poder político do momento.

Não tem existido uma política de fomento industrial, em particular, e de fomento, em geral, da actividade económica virada para o desenvolvimento.

Não há uma definição estratégica dos sectores industriais que mais interessa ao país desenvolver.

Não há, em consequência, nenhum plano ou “guide line” de orientação da economia nacional que ajude o sector privado a orientar os seus investimentos.

(A) Tudo isto com o argumento de que vivemos numa economia global…”é chique”!

(quando não se sabe mais o que dizer, ou pior não se sabe o que FAZER, diz-se isto e o “povão” cala-se esmagado pela frase, cala-se perante tanta sapiência).Como se a economia global … não fosse a soma das economias nacionais, a nossa incluída.

Como se a economia global … fosse preferir os investidores internacionais em desfavor dos investidores nacionais.

Como se a economia global … implicasse que as boas ideias, os bons projectos, de índole industrial, agrícola ou pesqueiros, fossem propriedade apenas de investidores multinacionais ou transnacionais.

Como se a economia nacional, e a economia global, … não fosse constituída por milhares de pequenas, médias e grandes ideias, projectos e unidades produtivas a funcionar, para cada um dos respectivos mercados-alvo.

Os incapazes refugiam-se nestes “papões”.

Os capazes andam para a frente!

(B) Tudo isto, também, com o argumento de que não vivemos numa economia planificada…”pouco ou nada sério”!

Este argumento cai pela base, dado que:

- Nada implica que existindo uma definição estratégica da economia;

- Nada implica que existindo uma definição clara dos sectores prioritários para o desenvolvimento;

- Nada implica que o Estado tendo uma política de médio e longo prazo, obrigue os actores privados a segui-la!-

Nada disto justifica a ausência de planos de fomento ou de desenvolvimento estratégicos que sirvam de guia ou de orientação.

Pois estes Planos só seriam de carácter obrigatório para o Estado!

É portanto uma falsa questão que esconde uma outra bem mais grave: desorientação estratégica, incompetência, desleixo perante os interesses do país e dos seus cidadãos.

Assim é urgente a criação de Planos de Desenvolvimento Industrial de cumprimento obrigatório para o sector público e estatal e de orientação para o sector privado.

Não resisto a dar uma pequena contribuição para o recentrar deste problema da falta de Estratégia:

O que é Estratégia e qual a sua importância:

Estratégia([2]) de um Estado tem a ver com a concepção, organização, desenvolvimento e aplicação de Poder para fazer face e ultrapassar os obstáculos que se apresentem, em cada momento, e que dificultem a realização dos objectivos do mesmo.

Qualquer Estado deve possuir, portanto, um instrumento que, por de cima dos diferentes ângulos de visão política partidária e sectorial, estabeleça os objectivos permanentes da nação, que representa, e a estratégia a seguir para os alcançar. Um Plano Estratégico Nacional.

Os formuladores desse Plano Estratégico Nacional([3]) devem tomar em consideração, a situação geográfica do/s território/s, os recursos disponíveis (morais, humanos, materiais e naturais), a vontade política nacional, a organização existente e potencial, por outras palavras, identificar e organizar os meios de que o Estado dispõe para atingir os objectivos da Nação.

Um Estado (território, povo e poder político que o representa) vive enquadrado, geograficamente, por outros Estados que também têm os seus próprios objectivos e ambições e que estão dispostos territorialmente sobre a superfície do planeta de forma mais ou menos organizada.

Esses objectivos são ou não coincidentes entre si, entre os diversos Estados.

E um qualquer Estado tem que estudar atentamente os seus iguais, que no seu conjunto formam o Sistema Internacional de Estados Soberanos, de forma a, em última análise, poderem sobreviver de forma autónoma no mesmo.

Isto é, manterem a sua capacidade de autogovernação de maneira a poderem atingir os seus objectivos, que devem coincidir com os da Nação que representam.

Ora não se conhecem maiores objectivos materiais do que trabalhar, produzir, de forma organizada, de forma a alcançar o bem-estar de um Povo, de uma Nação. Neste caso, de Portugal e dos Portugueses. Ou haverá?

6.2 – Diagnóstico da situação actual

Voltemos um pouco atrás, ás conclusões do Relatório Melander, de 1958, confirmadas pelas conclusões do Relatório Porter do início da década de 1990, que apontavam, entre outros, como problema fundamental da economia portuguesa “a necessidade de se encontrarem os instrumentos necessários para estimular a criação de novas empresas e para melhorar e modernizar as existentes, nomeadamente no que se referia aos equipamentos e à reorganização da produção”.

Estas conclusões dos dois relatórios continuam a ser actuais.

Por outro lado o Relatório Melander apontava como dificuldade estrutural a “insuficiência de espírito de empresa e de iniciativa entre os detentores do capital”. Passados 50 anos permanece actual esta asserção de Melander e da sua equipa.

Da análise exaustivamente feita aos agentes económicos, sobretudo do sector financeiro, os elementos da equipa Melander, perceberam que “o capital privado português tendia a evitar os investimentos que apresentassem riscos”.

Também aqui, me parece que a equipa Melander esteve este ano em Portugal.

6.3 - DESVANTAGENS da situação Geopolítica de Portugal:

É verdade que Portugal tem algumas características próprias que ajudam pouco:

- Está situado no sudoeste do continente europeu, com apenas 10 milhões de potenciais consumidores;

- Para arranjar 20 milhões de potenciais consumidores, tem que entrar pelo país vizinho;

- A Bélgica e a Holanda tendo 10 milhões de consumidores nacionais, cada, vêem-se rodeadas de cerca de 170 milhões de potenciais consumidores, no mesmo raio de acção em que Portugal apenas consegue 20 milhões;

- Geograficamente situado na parte mais ocidental do continente europeu, está inserido no oeste de uma Península ocupada por dois Estados de dimensão diferenciada, quer em tamanho de território, quer em termos populacionais.

- O país tem um território, terrestre, relativamente pequeno e pobre em recursos naturais, pelo menos naqueles recursos que têm grande cotação nas bolsas internacionais de mercadorias.

- Tem fronteiras terrestres com um único vizinho, cerca de cinco vezes maior em território e cerca de quatro vezes maior em população – a Espanha([4]).

Ora estes factores levam-me ás seguintes considerações:

- Por isso a diversificação de dependências de escoamento e de abastecimento de mercadorias foi, desde muito cedo, assumida como factor estratégico de desenvolvimento;

- Por isso Portugal não poderá estar demasiado e exclusivamente ligado aos mercados do continente europeu; Mais de 50% das nossas exportações são dirigidas para Espanha, Alemanha e França, o que tem acontecido, e sido agravado, nos últimos 22 anos.

- Por isso Portugal desde muito cedo teve a Visão e procedeu á 1ª Globalização – a do comércio internacional como modo de se desenvolver.

Exportava as suas mercadorias para rodos os continentes e buscava as suas fontes de abastecimento em todos os continentes;

E nesta interdependência com vários espaços económicos fez a sua grandeza em alguns momentos de lucidez dos seus dirigentes.

Noutros momentos nem tanto, por falta de visão ou de capacidade dos mesmos.

E uma das características que nos debilitam, como comunidade, é a capacidade dos dirigentes e a sua VISÃO ou a falta dela.

“Dirigentes fracos…de fraca visão e fraca capacidade,… fazem fraca a forte gente”!

- Dirigentes de sejam organizadores e distribuidores de tarefas;

- Dirigentes que tenham visão prospectiva, para além do dia seguinte;

- Dirigentes que tenham uma Visão que faça movimentarem a sociedade, para além das questiúnculas de mercearia do dia-a-dia.

Têm faltado a Portugal nas últimas décadas.

Sempre que os dirigentes souberam planear, organizar e distribuir trabalho;

Sempre que os dirigentes souberam transmitir uma Visão do futuro, e envolver a sociedade nela, tiveram sucesso. Portugal progrediu.

6.4. - VANTAGENS POTENCIAIS da situação Geopolítica de Portugal

Tem uma fronteira marítima de cerca de 800 kms, no Continente, a que há que acrescentar as costas dos dois arquipélagos adjacentes, um no centro do Atlântico – os Açores, - outro na costa oeste do Norte de África, - a Madeira - que têm também o seu Mar Territorial e a sua Zona Económica Exclusiva.

O triângulo marítimo de Portugal: – Continente – Açores – Madeira - produziu a maior Zona Económica Exclusiva de mar da Europa, adjacente ao Mar Territorial. Vejamos as dimensões de uma e de outra das zonas marítimas, para situarmos melhor a questão ([5]):

O Mar Territorial é constituído por uma área de 12 milhas náuticas a partir da linha de baixa-mar ([6]) ao longo da costa.

A Zona Económica Exclusiva([7]) é uma zona situada além do Mar Territorial, e a esta adjacente. Tem uma extensão de 200 milhas marítimas das linhas de base a partir das quais se mede a largura do mar territorial.

Nesta última faixa de oceano o Estado português tem direitos de soberania, nomeadamente, para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não, no leito do mar e no seu subsolo, incluindo a produção de energia a partir da água, das correntes e dos ventos e outros direitos e deveres consignados na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, convenção de Direito Internacional.

Por aqui se vê a grandeza da área disponível para Portugal explorar, se for capaz, numa zona de potencial ainda pouco conhecido.

Mas para explorar e defender os seus direitos, tanto no Mar Territorial, já de si muito grande, como na Zona Económica Exclusiva, Portugal teria que possuir uma Marinha de Guerra devidamente equipada e com dimensão suficiente, (o que não acontece actualmente), e uma Marinha Mercante, que foi progressivamente desfeita desde há trinta anos a esta parte.

Assim o potencial está lá mas não é explorado.

Não temos meios de vigilância e de defesa do nosso Mar, contra a exploração abusiva por parte de agentes económicos de outros Estados.

Não tendo esses meios, sobretudo de índole Mercante, (pescas, transporte de mercadorias (cabotagem e de alto mar), transporte de pessoas) não estamos a aproveitar a “auto-estrada” marítima que possuímos e a sua ligação com outros Estados, nomeadamente com os de língua portuguesa, e não estamos a potenciar o valor de algumas linhas de águas interiores.

Não estamos a aproveitar o factor económico nem logístico que esta dimensão de Portugal nos poderia proporcionar.

Porquê?

Por falta de vontade política?

Por falta de visão e planeamento estratégico das élites, nomeadamente dos detentores do poder político? Por falta de uma política de desenvolvimento?

Por falta de uma Plano Estratégico Nacional?

Desde o famoso Despacho n.º 100, da autoria do Almirante Américo Thomaz, que o país não tem mecanismos de expansão e de incentivo ao aparecimento e manutenção de uma Marinha suficiente para este efeito.

O facto de o Ultramar se ter autonomizado de Portugal é razão suficiente? Os milhões de quilómetros quadrados de mar em que Portugal detém a soberania plena – o Mar Territorial – e parcial – a Zona Económica Exclusiva – não têm a importância que parecem ter?

Dada a evidência de os custos de transporte por via marítima serem, em comparação com outros meios, mais baixos; dada a morfologia favorável dos nossos portos de mar; dada a dimensão das nossas costas; dadas as suas características que facilitam a fixação das populações junto ás mesmas; não se justificaria ter uma Marinha de Transporte de Mercadorias e de Pessoas de grande dimensão?

A dimensão das águas e seus recursos económicos, não são suficientes para que Portugal incentive, a exemplo do seu vizinho terrestre, por exemplo, uma Marinha de Pesca em consonância com esse dimensão, negociando com a força da razão em Bruxelas?

Os nossos portos, dotados de uma política de enquadramento organizativo, alvo de alguns investimentos de modernização e de racionalização operacional, não seriam atractivos aos operadores nacionais e internacionais?

Os estaleiros de construção e de reparação naval não poderiam ser incentivados e apoiados, com medidas de enquadramento reais e efectivas, a melhorar as suas performances em matéria de organização, meios e colocação no mercado internacional dos seus serviços?

Para reflexão adicional:

- A Espanha, com uma menor Zona Económica Exclusiva, tem prosseguido uma política:

(A) de expansão da suas Marinhas de Guerra, de Pescas e de Transportes,

(B) para além de proceder sistemáticamente a uma melhoria dos seus Portos de Mar e

(C) incentivar e apoiar a sua Indústria de Construção e Reparação Naval.

Estarão errados os governantes espanhóis, das várias tendências políticas, que têm ocupado o poder político no país vizinho?

Estarão errados nas suas opções estratégicas de ocupação do mar e do seu aproveitamento intensivo em favor da Economia Espanhola?

Estarão errados no seu posicionamento Geoestratégico no Sistema Internacional?

Miguel Mattos Chaves


[2] CF. Carvalho, Virgílio – Estratégia Global; Moreira, Adriano – Ciência Política; Couto, Abel Cabral – apontamentos – CDN2003 e Chaves, Miguel de Mattos – Portugal e a Construção Europeia – Ed. Sete Caminhos - Lisboa 2005

[3] E já agora lembro que Portugal, o meu país, não tem um Plano Estratégico Nacional há mais de trinta anos.

[4] Portugal – 90.000 kms2 no Continente e cerca de 10 milhões de habitantes ; Espanha – 500.000 kms2 na Península e cerca de 40 milhões de habitantes.

[5] Estas definições foram instituídas pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, (inserida no Direito Internacional Público) elaborada em Genebra entre 1958 e 1960.

[6] Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar – Genebra 1960 – Art.º 3, 4 e 5, da Secção II, da Parte II

[7] idem - Art.º 56 e seguintes da Parte V

Re - Industrialização (1ª Parte)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Meus caros amigos

Dado que ninguém fala nisto, sinto a responsabilidade de colocar este tema á discussão, publicamente.

Na verdade o tema da necessidade de PRODUZIR bens tangíveis, e a necessidade de o País TRABALHAR é um tema que sei que preocupa muita gente pensante e preocupada com o rumo futuro de Portugal. Alguns dos mais visíveis políticos do sistema do Centrão (PSD e PS) querem, no entanto, que o País se transforme num país de Serviços.

Esquecem-se esses “doutos” opinadores, que os Serviços são sectores que foram concebidos para APOIAR os sectores produtivos.

Se não houver sectores produtivos de bens tangíveis, apoiam o quê? E o expoente máximo disto é o dito sector financeiro.

Deixo aqui algumas perguntas á Vossa reflexão:


  • O que é que ele produz?
  • Que riqueza cria?
  • Que mais valias (que não especulativas) gera?
  • Apoia Ideias e Projectos de índole industrial, abínicio?
  • Isto é Novos projectos, Novas Ideias?

Neste engano, de que o país só serve para Serviços, de muitos maus resultados, (como agora se vê pelos resultados de quase 20 anos de predomínio desse sector na vida nacional e internacional) foi-se deixando Portugal perder as suas indústrias, a sua agricultura e as suas pescas.

Consequência: desemprego crescente, empobrecimento do país.

Mas será tudo isto inevitável?

A minha resposta é não!

E neste meu trabalho que agora vos começo a enviar, em capítulos para não maçar muito, apontam-se algumas pistas para a salvação possível de Portugal e para o devido aproveitamento dos jovens e menos jovens portugueses e da sua altíssima capacidade criativa.Se me quiserem fazer chegar os vossos comentários ficarei, naturalmente, agradecido

Boa leitura.

ÍNDICE
1. Introdução
2. Enquadramento histórico ([1])
3. Planos de Fomento e o seu papel na reestruturação da economia
4. Estudo da OECE sobre Portugal – O Relatório Melander e a sua actualidade
5. Algumas medidas estruturantes, tomadas na sequência do Relatório
6. FUTURO: Algumas RECOMENDAÇÕES/PISTAS sobre MEDIDAS para a RE-INDUSTRIALIZAÇÃO do país do Século XXI e sua justificação
6.1 – Planos de Desenvolvimento
6.2 – Diagnóstico da situação actual
7. No que ao ESTADO compete / No que o Estado deve fazer
7.1. Introdução
7.2. O FUTURO – Algumas medidas – Identificação de alguns Sectores Industriais ou para – industriais
de INVESTIMENTO PRIORITÁRIOS
7.2.1. A ENERGIA HIDROELÉCTRICA, com reflexos no Estratégico Recurso do Séc. XXI: a Água e na IRRIGAÇÃO dos SOLOS
7.2.2. A MADEIRA, e os PRODUTOS AGRÍCOLAS utilizados pelas indústrias alimentares
7.2.3. Um parêntesis para referir que presa com estes factores, falta uma Política Agrícola em Portugal
7.2.4. Em resumo
7.2.5. RECURSOS MARINHOS – MARINHA MERCANTE – MARINHA de PESCA – MARINHA de CABOTAGEM – PORTOS
7.2.6. Considerações gerais
7.3. Exploração dos Recursos Marinhos – um factor Estratégico
8. Dois Factores de Estrangulamento do Investimento Industrial de Origem Nacional
8.1. A BANCA
8.2. Financiamento de Novos Projectos, Novas Empresas
9. MECANISMOS SUPLETIVOS DE APOIO á INDÚSTRIA por parte do Estado
9.1. NOVOS PROJECTOS de INVESTIMENTO
10. Caracterização sumária da ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL portuguesa média
11. Outra medida com potencial – exemplo de um Apoio fiscal ao Reinvestimento reprodutivo
12. Os que nos falta então, mais do que está já enunciado?
13. Em Resumo

HOJE:
1. Introdução
2. Enquadramento histórico
3. Planos de Fomento e o seu papel na reestruturação da economia
4. Estudo da OECE sobre Portugal – O Relatório Melander e a sua actualidade
5. Algumas medidas estruturantes, tomadas na sequência do Relatório

RE - INDUSTRIALIZAÇÃO do PAÍS
Uma necessidade Estratégica para Portugal!
Marco Polo descreve uma ponte, pedra a pedra.
- Mas qual é a pedra que sustém a ponte? - pergunta Kublai Kan
- A ponte não é sustida por esta ou aquela pedra - responde Marco, - mas sim pela linha do arco que elas formam.
Kublai kan permanece silencioso, reflectindo.
Depois acrescenta:
- Porque me falas das pedras? É só o arco que me importa.
Polo responde:
- Sem pedras não há o arco.
*
1. Introdução
São muito frequentes as situações em que os indivíduos e as instituições se põem a si próprios interrogações inquietas acerca do evoluir provável da vida colectiva, em qualquer dos seus segmentos económico, social ou político; e isso sucede designadamente na medida em que elas pretendem fazer assentar em bases tão sólidas quanto possível as suas decisões nalguma daquelas esferas de interesses.

Porém o que ocorre com frequência nessas circunstâncias é que ao fim e ao cabo, a escolha é feita recorrendo às faculdades de intuição, mais do que à previsão racionalmente estabelecida, com a justificação de que a complexidade da vida individual e social não se deixa penetrar completamente por instrumentos conceptuais rigorosos da análise e, por conseguinte, de que é forçoso raciocinar e prever mediante a fixação de muitas e variadas hipóteses cuja aceitabilidade é, por vezes, muito difícil de caucionar.

Esta é uma matéria, a da industrialização, vasta e complexa de que aqui se deixam apenas algumas linhas gerais, algumas pistas e algumas medidas concretas.

Se houver interesse, e mais tempo para o estudo e articulação de proposta de política de industrialização, poderei aprofundar este trabalho e identificar mais medidas concretas, que contenham o objectivo de dotar o país de um tecido industrial forte, gerador de emprego e gerador de riqueza.

Nomeadamente seria interessante escalpelizar alguns dos modelos das relações inter industriais e a sua correlação com a política económica, para melhor verificarmos dos efeitos potenciais na economia geral do país.

Mas tendo-me proposto elaborar um “paper” rápido de algumas medidas que reputo de importantes e estratégicas para o país, com vista à re industrialização de Portugal, é isso que vou tentar dar forma nas páginas seguintes.
*
2. Enquadramento histórico
Algumas das Principais medidas de Política Económica, da 2ª República, que levaram á industrialização de Portugal
A actualidade das mesmas - (a negrito as principais coordenadas)

Durante, praticamente toda a 2ª República, prevaleceu uma Política Monetária de «dinheiro barato». A estabilidade dos preços era completada com baixas taxas de juro, regulamentadas por lei.
As taxas das operações activas que os bancos podiam praticar estavam limitadas por uma margem, acima da taxa de desconto, de cerca de 1,5 pontos percentuais.

É preciso distinguir e subdivir o processo de crescimento económico de Portugal em duas fases, naquilo que se refere ao seu processo de liberalização do comércio externo:
A 1ª fase – 1958-1965 – durante os anos cinquenta e os primeiros anos da década de sessenta, do século XX, em que a atitude dominante era o proteccionismo, baseado no argumento de que se estava no princípio da industrialização, as indústrias estavam no seu início e que havia que proteger o seu nascimento e proporcionar-lhes condições de vingarem.
Verificaram-se nesta fase crescimentos médios anuais do PIB acima dos 6%.
A 2ª fase – 1966-1973 - nesta, meados dos anos sessenta e início da década de setenta, deu-se a liberalização da nossa economia. Assistiu-se a crescimentos médios acima dos 7%.

A taxa de crescimento da economia, entre 1970 e 1973, foi de cerca de 9% ao ano, tendo o desenvolvimento sido financiado pelo Estado e por alguns bancos, detidos por alguns grupos económicos.
A taxa de desemprego rondou os 2% na década de 1960 e a emigração diminuiu, no referido período.
Os défices públicos andaram sempre abaixo do 1% do PIB.

No entanto houve duas excepções: no período do pós-guerra, 1947/1948, e nos anos de 1961 a 1963 o deficit esteve acima dos 3%.

No começo da década de sessenta, a dívida pública cresceu dos 21,6% em 1960, para os 28,1% em 1964, tendo a dívida externa crescido de 2,5% em 1960, para 7,9% em 1964, tendo estes acréscimos sido devidos ao começo da guerra no ultramar, verificado em Angola, Moçambique e Guiné.
A inflação foi sempre rigorosamente controlada tendo apresentado valores médios de 2,3% ao ano durante o período compreendido entre 1950 e 1970. No período seguinte subiu para os 7% devido á 1ª crise petrolífera.
A taxa de desconto do Banco de Portugal era de 2% em 1944, que se manteve até 1965, tendo subido a partir daí para os 2,5%.
O capital barato foi determinante para a descolagem de Portugal, bem como a estabilidade dos preços, o que favoreceu a realização de investimentos de capital intensivo.
*
3. Os Planos de Fomento e o seu papel na reestruturação da economia
A 1ª tentativa de elaboração de um programa de desenvolvimento foi a Lei n.º 1914 de 24 de Maio de 1935([2]).

Tratava-se de um programa a pôr em execução no decurso de um período de 15 anos, circunscrito a um certo número de investimentos públicos considerados da maior importância, sem que tenha havido a preocupação de os inserir num conjunto sistematizado.

No final deste plano, foi levada a efeito a elaboração e a execução de uma série de planos administrativos parciais: “reorganização dos serviços postais e telefónicos, desenvolvimento hidro-agrícola, reflorestação, desenvolvimento da extracção mineira, fornecimento de água, equipamento portuário, construção de estradas, renovação da marinha mercante”.
Avaliados, no início, em 6,5 milhões de contos os investimentos totais acabaram por atingir os 14 milhões de contos no termo da vigência da lei de 1935.

No período do pós-guerra, Portugal lançou um conjunto de planos de investimento e de medidas de cumprimento obrigatório para o sector público.
Para o sector privado estes, denominados de Planos de Fomento, eram apenas de enquadramento macro-económico permitindo, no entanto, à iniciativa privada, perceber das intenções do poder político sobre a economia e sobre o seu desenvolvimento e, se fosse caso disso, ser apoiada directa ou indirectamente pelo Estado.

Para mais, estes planos eram trabalhados, na sua concepção, não só a nível governamental como também eram chamados a dar a sua colaboração várias entidades privadas, nomeadamente as associações patronais e as empresas públicas. A sua execução anual era discutida na então Assembleia Nacional e articulada com os Orçamentos anuais do Estado.

No período que decorreu entre 1953 e 1974 foram concebidos e construídos 4 Planos de Fomento e um denominado de Plano Intercalar.
O 1º Plano de Fomento vigorou entre 1953 e 1958. Compreendia seis capítulos: agricultura, energia, indústrias–chave, transportes e comunicações, escolas técnicas e iniciativas do mesmo género no Ultramar. Continha, portanto, um conjunto de investimentos nos vários campos de actividade onde o país mais carecia do investimento necessário ao seu desenvolvimento.
Cerca de 35% dos investimentos totais previstos, foram dirigidos para o campo da energia, em que se previa a construção de barragens hidroeléctricas e a construção de redes de transporte de energia, gerada pelas mesmas, de forma a estender o uso da electricidade aos centros e populações rurais.
Na área das comunicações e dos transportes previa-se a construção e reparação de estradas, construção de infra-estruturas ferroviárias e a construção de infra-estruturas necessárias às telecomunicações terrestres e marítimas. Nesta área foram investidos cerca de 32%, das verbas do plano.
No sector da agricultura, silvicultura e pescas, e na hidráulica de apoio cerca de 17% dos montantes em causa, que seriam aplicados no repovoamento florestal, na irrigação por meio de grandes albufeiras e na colonização interna.
A investigação e o ensino técnico seriam contemplados com 2%
e os apoios à industrialização significariam cerca de 12% do total.
Os investimentos totais do plano significavam cerca de 23,6% do Produto Interno Bruto, a que correspondia uma dotação de 13 milhões e meio de contos. Na realidade foram investidos na Metrópole 10,4 milhões de contos e 4,5 milhões no Ultramar, ultrapassando os objectivos inicialmente previstos.
O referido plano foi apresentado publicamente numa série de conferências organizadas para o efeito, e como razão fundamental para o início desse tipo de organização era apontada a “complexidade das tarefas colectivas que os aumentos demográficos e os altos níveis de vida das populações impõem aos Estados modernos” e pela “necessidade política de atingir determinados objectivos em prazos certos” de forma a responder a ”questões políticas, económicas e financeiras que o plano enfrenta e dos resultados que visa” e a enfrentar a necessidade de disciplinar a actividade do Estado.
Como ponto de partida, na concepção do plano, a atenção primária incidia nos recursos disponíveis, isto é nos recursos próprios do país, e após esse levantamento descreviam-se as necessidades existentes atribuindo-se então os recursos possíveis a cada área de necessidade, de forma a evitar “uma pressão demasiada sobre a economia interna”, que a criação de meios de pagamento artificiais poderia criar o que poderia conduzir a uma quebra da estabilidade monetária e do equilíbrio social”.

No capítulo dedicado à iniciativa privada a orientação ia no sentido de o Estado “fomentar a criação de empresas, apoiá-las técnica e financeiramente, ditar-lhes regimes adequados de exploração... e retirar-se, quando não seja necessária a sua presença ou o seu auxílio”.
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4. O Estudo da OECE sobre Portugal – O Relatório Melander – A sua actualidade

Em Outubro de 1957 o Conselho da OECE /(futura OCDE) tinha decidido que a Comissão intergovernamental, o Comité Maudling, procedesse aos estudos necessários e iniciasse as negociações com os vários países, sobre a criação da referida zona, de forma a avaliar das condições de cada um em participar em tal espaço.

Nos meios governamentais portugueses, e no seio da OECE, havia dúvidas se Portugal estaria em condições de pertencer, como membro de pleno direito, à projectada Zona.

Portugal, através do Embaixador Teixeira Guerra, a propósito deste tema tinha feito saber, em 26 de Novembro, que seria difícil aderir à referida zona, pelo menos nas condições constantes da proposta britânica. Esta considerava apenas a adesão de Nações Industrializadas, o que não era manifestamente, na altura, o caso de Portugal, país que, segundo os seus responsáveis, era caracterizado como um país «em vias de desenvolvimento».

Assim e para o caso português foi nomeada uma comissão de peritos da organização, liderada pelo Presidente do Banco Central da Noruega, M. Melander.
Esta apresentou um extenso, e exigente, inquérito destinado a ser respondido pelas autoridades portuguesas e visitou Portugal em Outubro, levando a efeito várias visitas de estudo pelo país.
No inquérito formulado, sobretudo sobre questões económico-financeiras, Portugal foi chamado a justificar o conceito de República Corporativa, para além de ser solicitado a pronunciar-se sobre a política governamental de carácter económico, nomeadamente sobre os planos de Fomento, e sobre outros extensos e complexos assuntos.
A resposta de Portugal foi igualmente extensa tendo sido entregue ao Comité em Maio de 1958.

Cabe aqui uma nota explicativa sobre uma teoria mal conhecida do público, desenhada pelos teóricos da República Corporativa, que pelo seu inegável interesse não resisto a reproduzir:
“A expressão República Corporativa significa que a colectividade soberana não é formada por indivíduos isoladamente considerados como tal, mas por sociedades primárias (elementos estruturais da Nação) – família, organismos corporativos e poderes locais (autarquias locais), nos quais se agrupam indivíduos e por intermédio dos quais estes exercem os seus direitos políticos. Todas as actividades económicas da Nação, nos termos da Constituição portuguesa, devem estar representadas no seio de organismos corporativos, abertos tanto a portugueses como a estrangeiros”.

No fundo, com cambiantes, a representação dos interesses dos cidadãos junto dos poderes instituídos continua a fazer-se desta forma na sociedade portuguesa, como bem se poderá verificar numa análise da actualidade.

Na sequência das respostas do Governo, o Senhor Melander (Presidente do Banco Central da Noruega e Presidente do Grupo de Trabalho nº 21 da OECE), e os seus colegas Srs. Gérard Bauer (Representante da Suíça na OECE) e J.F. Cahan (Secretário Geral Adjunto da OECE), produziram um documento, que ficou conhecido, de alguns, como o “Relatório Melander”, mas cujo título real é: “Rapport du Groupe D’Experts Presidé para M. Melander au President du Comite Intergouvernemental sur les demandes de la Delegation du Portugal Relatives aux conditions de Participation de ce Pays a la Zone de Libre Echange”.

As conclusões deste relatório vieram a ser muito importantes para as futuras negociações de entrada de Portugal na EFTA.

Parte do Diagnóstico contido no Relatório “MELANDER”:
A equipa do Senhor Melander entrevistou numerosas personalidades do meio empresarial, da Comissão Técnica, e do meio governamental onde se destacaram pela colaboração prestada, o Ministro da Economia Dr. Ferreira Dias, o Ministro das Finanças, Dr. Pinto Barbosa, o Subsecretário de Estado do Tesouro, Dr. Jacinto Nunes e o Secretário de Estado do Comércio Dr. Correia de Oliveira.

Foi submetido, ao Governo português, um extenso questionário no qual foram colocadas questões sobre todos os aspectos da vida nacional nos campos económico, industrial, financeiro, educacional, saúde e político. A resposta, também ela extensa, a esse questionário foi aprovada em Conselho de Ministros em Maio de 1958.

Pelo levantamento e pela respectiva análise efectuada, a equipa chegou à conclusão que os pedidos das autoridades portuguesas faziam sentido dado o estado, de então, da economia portuguesa. E por isso justificava-se um período de adaptação, da mesma, aos previsíveis embates exteriores. As razões eram muitas e objectivas.

Desde logo porque, em boa parte dos casos, o equipamento industrial era vetusto, o número de trabalhadores qualificados era limitado, a dimensão do mercado interno era pequena, o que fazia com que a capacidade de produção instalada não pudesse ser totalmente explorada.

Por outro lado, o relatório apontava os defeitos de organização interna e da administração das empresas que conduziam à anulação frequente dos efeitos favoráveis de bons equipamentos técnicos. Prosseguia ainda o relatório dizendo que a comercialização dos produtos teria que progredir.

Da análise feita, os elementos da equipa Melander, perceberam que o capital privado português tendia a evitar os investimentos que apresentassem riscos.

Enfim, o estado geral da economia, diz o relatório, impedia as empresas de beneficiar das vantagens exteriores de que beneficiavam os produtores das economias mais avançadas, nomeadamente em matérias como o custo da energia, custo de transportes, comunicações, sistemas de distribuição etc.

Estas considerações eram reforçadas pela análise da Agricultura, onde a produtividade era considerada fraca e o sub emprego importante.
O Governo português, em consequência deste quadro geral, pretendia um período de transição longo que seria necessário, na sua opinião, para permitir o desenvolvimento e para completar as infra estruturas materiais e humanas da economia, para desenvolver as redes de transportes e de comunicações, a produção da energia, a irrigação dos campos e o reflorestamento do país, e ainda para poder alargar a instrução primária e a formação técnica a mais camadas da população.

Por outro lado, continuava o relatório de resposta ao questionário Melander, Portugal necessitava de reorganizar sectores inteiros da produção agrícola e industrial, o que demoraria alguns anos a fazer.

Como dificuldade estrutural o relatório Melander indicava, em consequência das suas análises, a “insuficiência de espírito de empresa e de iniciativa entre os detentores do capital”.

Um parêntesis apenas para referir que, e na minha opinião, décadas passadas, este problema continua a ser um dos bloqueadores do desenvolvimento da sociedade portuguesa.

No entanto, e mais à frente, o relatório depois de traçar o quadro acima descrito, dava nota das potencialidades de Portugal.
Assim começava por dizer que as possibilidades de desenvolvimento económico do país estavam longe de ser negligenciáveis, dado que se a exploração dos recursos hidroeléctricos do país fosse levada a cabo, isto permitiria diminuir apreciavelmente o preço da energia fornecida à indústria.

Indicava, ainda, que várias indústrias, nacionais ou internacionais, poderiam estar interessadas na transformação das matérias-primas disponíveis em Portugal, como a madeira, o mineral de ferro e sobretudo dos produtos agrícolas utilizados pelas indústrias alimentares.

Referia ainda que a mão-de-obra era abundante e, mesmo que a formação profissional deixasse muito a desejar, o seu custo para o empresário parecia ser consideravelmente inferior ao observado nos países industrializados.
No plano do pessoal técnico superior, Portugal aparecia muito melhor colocado, na opinião dos especialistas da equipa, que os países com receitas comparáveis.

O estado das finanças públicas era considerado excelente, dado que tinha sido seguida uma política que, depois de longos anos, tinha conseguido manter a estabilidade financeira interna e externa, o que dava como resultado que o escudo fosse fiável aos olhos dos mercados internacionais, o que a continuar, deveria facilitar o investimento estrangeiro.

Salientava ainda o relatório que algumas das indústrias instaladas no país, conservas de peixe, têxteis de algodão, pastas e papel, embora minoritárias, no tecido empresarial português, podiam desempenhar o papel de ser um exemplo a seguir por outros detentores de capital.

No referido estudo Melander, e a sua equipa, apontavam como problema fundamental da economia portuguesa a necessidade de se encontrarem os instrumentos necessários para estimular a criação de novas empresas e para melhorar e modernizar as existentes, nomeadamente no que se referia aos equipamentos e à reorganização da produção.
*
5) Algumas medidas estruturantes, tomadas na sequência do Relatório

Na sequência deste relatório, e dada a insuficiência de tomada de risco por parte dos agentes financeiros portugueses, foi decidida a criação do Banco de Fomento Nacional, de capitais públicos.

Este Banco surgia pela necessidade de suprir esta dificuldade (o insuficiente espírito de risco do capital privado português) que levaria a não se efectivarem novos investimentos, em novas empresas produtivas, o que levaria a um nível de emprego baixo e á não industrialização necessária ao desenvolvimento e modernização do país.

Uma outra medida foi a instituição de Planos de Fomento, que foram e se constituíram como os guias de estruturação do desenvolvimento português nas suas várias vertentes: Agricultura, Pescas e Indústria.

(CONTINUA ...)

Miguel Mattos Chaves

[1] Baseado nos textos do livro “Portugal e a Construção Europeia – Mitos e Realidades – Miguel de Mattos Chaves - ed. Sete Caminhos – Lisboa - Abril de 2005[2] In Comissão Portuguesa do Atlântico – Esta Comissão tinha como Presidente o Dr. Augusto de Castro e contava entre outros com o Prof. Doutor Armando Gonçalves Pereira, Eng.º Duarte Pinto Freitas do Amaral e Prof. Doutor Guilherme Braga da Cruz - Bulletin nº 27 de Outubro



Quem Saia aos Seus Não Degenera

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Segundo divulga hoje o Diário Económico, o Deutsche Bank, o maior banco alemão, deverá ter registado prejuízos de 4,80 mil milhões de euros no últimos trimestre de 2008, tendo as suas acções tido uma queda de 8,30% na Bolsa de Frankfurt.

Então não era este o Banco que dava lições a todos e que até divulgou que teria vergonha de recorrer aos fundos públicos da Alemanha? Vamos ver até quando.


Em Portugal basta ver o que a comunicação social tem divulgado, enganaram os seus Promotores, contas erradas para a CMVM, processos em Tribunal etc,etc

Só falta saber se os resultados de 2008 também são negativos, o que não deve deixar de acontecer pois quem sai aos seus não degenera


Miguel M

Precisamos de Mais Heróis

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

  1. Armando Vara foi promovido na Caixa Geral de Depósitos (CGD) um mês e meio depois de ter abandonado os quadros do banco público para assumir a vice-presidência do Banco Comercial Portugal (BCP), um procedimento que o banco público classifica de “prática comum”, noticia hoje o “Público”.Esta promoção foi decidida pelo conselho de administração da CGD em 27 de Fevereiro de 2008, já pela administração de Faria de Oliveira, que ascendeu ao cargo após a saída de Carlos Santos Ferreira e dos administradores Armando Vara (desvinculou-se da CGD no dia 15 de Janeiro de 2008) e Vítor Manuel Lopes Fernandes para a administração do BCP, na sequência dos diversos escândalos ocorridos neste Banco.
  2. Segundo o jornal “Expresso”, o BCP tem em funcionamento um sistema que permite a alguns dos seus quadros irem trabalhar para outros sítios, enquanto mantêm o vínculo contratual com o banco.São pelo menos 28 os gestores do Banco Comercial Português que trabalham noutras instituições, mas recebem a maior parte do ordenado do banco, que lhes continua a pagar mais de 70% do ordenado.
  3. O “DN” noticiou ontem que o Ministério Público está investigar o Banco Popular e que o processo foi aberto na sequência de uma queixa-crime apresentada por vários clientes, onde foram denunciados crimes de abuso de confiança, infidelidade e gestão danosa.

É este o panorama com que hoje todos nos deparamos e sem a solução do qual só a longo prazo será possível restaurar a confiança nas instituições financeiras, sem a qual, a vida será cada vez mais difícil para todos os que não estão envolvidos nesta verdadeira vergonha e que são a grande maioria do povo português.

Mas não será por isso, que deixarão de ser eles a pagar a crise para benefício de uns poucos que, no seu elevado sentido de gestão, só souberam gerir em benefício próprio.

Então e as entidades reguladoras, nomeadamente o BP o que andaram a fazer? Perguntamo-nos todos nós. Será que não conseguiram detectar nada de irregular?

A resposta é fácil, nada viram e portanto nada puderam fazer.

Acumulam-se no entanto as situações pouco claras e transparentes no BP, sendo que também aqui algumas são verdadeiramente extraordinárias, como seja o nível das remunerações auferidas pela administração, que pasme-se são superiores às praticadas nos Estados Unidos da América.

No entanto algo está a mudar positivamente na sociedade e só assim será possível acabar com esta vergonha e corrupção:

  • O Banco Popular Portugal desconhece qualquer queixa contra o banco e diz que se esta existir, “só poderá estar relacionada com assunto de natureza corrente da actividade bancária”, vivam estes Heróis que foram directamente ter com quem ainda nos merece confiança (Procuradoria Geral da República).
  • De acordo com a “TVI”, José Oliveira Costa, ex-presidente do Banco Português de Negócios, tem os seus bens arrestados por ordem do tribunal, que decidiu também congelar os bens da sua ex-mulher, de quem se divorciou meses antes de surgir o escândalo BPN. Os Tribunais também estão atentos, apesar dos esforços de alguns para que sejam lentos na aplicação da Justiça.
  • Alguns clientes do BPN já se organizam e accionam previdências cautelares contra o Banco

MAIS HERÓIS: PRECISAM-SE COM URGÊNCIA

Parece uma Praga!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Estou obviamente a falar das fraudes que envolvem os Bancos, todos eles de respeito, como se, aliás houvesse algum banqueiro que não fosse respeitável (pelo menos até há três ou quatro meses atrás!).

Esta praga mais parece uma das doenças contagiosas do terceiro mundo, esses sim, que sem recursos se vêem confrontados com epidemias e impotentes para as travar.

Nós povos evoluídos, temos esta Praga, que os governos tentam de todas as formas, disfarçar, encobrir ou mesmo pagar, nem que seja com o dinheiro de todos nós, para que o sistema não fique perturbado, e para que estes respeitosos Srs. não vão todos para a falência.

Senão, vejamos o que acontece hoje em Itália. Mais um escândalo. E, adivinhem, com mais uns quantos Bancos de respeito, nomeadamente que na melhor das suas boas fés e intenções, iludiram pelos vistos o Município de Milão, que pondera a via judicial para resolver, aquele que após a Parmalat, se afigura como o maior escândalo financeiro.

Aqui está uma nova variante da Praga. Já nem os governos estão imunes, e, quando lhes toca na pele (os mesmos que os protegem…), aí vão eles para tribunal, e aqui já não se pensa nos riscos sistémicos…

Em Portugal, aonde alguns dos bancos agora visados também operam, tem havido denúncias, inclusive junto do Banco de Portugal, e nada se passa.

Nada não! O nosso BPN, que foi nacionalizado , vai ser avaliado por um destes intervenientes.

Como diria o Fernando Peça. E esta, hein?

Se calhar daqui por algum tempo, tal como no BCP, BPN, e sabe-se lá mais quem, qualquer dia o BP, vai descobrir qualquer coisita, e, depois pode vir, eventualmente algum castigosito, mas entretanto, os bancos continuam a facturar milhões, e imagine-se à custa de quem.

Sinceramente, penso que já chega.

Tal como nos bairros problemáticos das grandes cidades, os Bancos necessitam de Polícia de proximidade, pois não vejo de que outra forma se pode combater a PRAGA.

Carlos Afonso

Só o regresso da ética pode resolver a actual crise financeira

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Presentemente todos nós estamos abrangidos por este verdadeiro problema, não só financeiro, mas também económico, sendo certo que ninguém tem certezas de coisa alguma, tal a velocidade da evolução dos acontecimentos e as alterações que permanentemente nos atingem.

Vamos assistindo a uma evolução de acontecimentos que não podem deixar de nos deixar totalmente siderados, pois sucedem-se as situações de fraude, corrupção e falta de ética, em entidades financeiras que até há pouco tempo eram consideradas insuspeitas e que agora vemos desmoronar como se de um verdadeiro castelo de cartas de tratasse.

Como se já não bastassem as fraudes no Millennium/BCP e no BPN, e o desastre do BPP, verificamos ainda as soberbas reformas antecipadas/indemnizações de gestores bancários que depois são nomeados para novos lugares.

Mas a estas situações acresce ainda a evolução na carreira, designada como “normal”, mas que permite um substancial reforço financeiro pessoal, com a sucessiva troca de cadeiras entre diversas instituições, ao arrepio dos mais elementares princípios da ética, como é por exemplo o caso do Dr. João Freixa, ex-Director Geral do Barclays Bank em Portugal, que depois passou para a Administração da CGD e que actualmente se encontra na Administração do BES.

Só os que presenciaram estes acontecimentos, sabem das razões e do significado dos mesmos, sendo certo que estas situações são uma verdadeira praga no sistema, estamos a falar dos lugares de topo nas diversas instituições e em como a falta de ética pessoal não poderá também de deixar de se repercutir ao nível dos negócios com os seus clientes, sejam eles empresas ou particulares.

Só o regresso da ética pode resolver a actual crise financeira, pois é certo que nem tudo pode ser regulamentado por via legislativa

A opinião pública é cada vez mais um factor determinante para obrigar alterar esta “anarquia de valores” com que nos deparamos, e julgo que será para isso que pretenderá contribuir este blog, certo de que a denúncia das diversas situações na Banca deve ser do conhecimento de um cada vez maior número de pessoas, razão pela qual felicito já o aparecimento deste veículo de comunicação

Poderá assim também a opinião pública contribuir para que possam ter vergonha nos actos que praticam, sendo que os mesmos são cada vez mais assumidos com um maior requinte de favorecimento pessoal e sem obediência a quaisquer regras, que não sejam as ditadas por questões meramente formais.

Parte do problema da Banca também reside no comportamento do Banco de Portugal, ainda ontem divulgou que se prepara para publicar legislação, em que as instituições financeiras vão ser obrigadas a elaborar um preçário com valores de juros praticados, comissões e outras despesas cobradas aos clientes, entre outras informações.

Ou seja mais uma medida reactiva, em vez de tomar medidas pró-activas, procurando prevenir em vez de remediar, ou seja, deixou de actuar em tempo oportuno e fá-lo sempre com atraso, para ele a Volta a Portugal começa sempre com um dia de atraso.

Tal como disse Mário Soares, "Diário de Notícias", 6-1-2009, Temos de procurar um novo paradigma, visto que, manifestamente, o que tínhamos não serve. Trouxe corrupção, numa escala nunca vista, falências, descontentamento, desemprego", desigualdades, mais pobreza, e quem sabe se trará ainda revoltas, fruto do descontentamento..."

M Moreira

NEM TUDO É MAU

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Neste último ano como é do conhecimento geral, temos vindo a assistir a uma crise económico-financeira de dimensão catastrófica que ainda ninguém se arrisca a prever o terminus da mesma.

É certo que muitas podem ser as razões apontadas para termos chegado ao ponto de que todos são culpados e ninguém tem culpa, no entanto certo é o facto de ter havido demasiada ambição por parte quer das Instituições Financeiras quer dos próprios investidores, que levaram à criação de instrumentos financeiros que permitiram criar elevados rendimentos com níveis de risco muito reduzidos.

A grande questão passa no meu entender pelo facto de ninguém ter questionado como um instrumento financeiro de risco baixo poderia oferecer rendibilidades anuais superiores a 20 e 30%.

Nos mercados financeiros se há coisa que não existe é elevadas rendibilidades sem risco.

E por isso há que referenciar e denunciar todas as instituições que “esconderam” através de alguma engenharia financeira o risco que determinados activos detinham, transformando-os em activos seguros com performances maravilhosas.

Mas é também verdade que é preciso referenciar as instituições que souberam acompanhar esta fase de mercado, diversificando as carteiras com produtos de capital garantido e depósitos a prazo com taxas que potenciem o retorno dos clientes, como é o caso do Banco BEST.

No mercado nacional existem algumas instituições que merecem a nossa confiança, pelo facto de numa conjuntura adversa, continuarem a oferecer produtos de investimento capazes de gerarem retornos interessantes aos clientes sem que os mesmos assumam risco de capital. Tudo passa pela estratégia com que se devem encarar estas crises e quais os meios que se devem disponibilizar para que as pessoas se sintam confiantes e acreditem nas aplicações em que investem.

Por isso acredito que cada vez mais vai ser esta a estratégia a adoptar pelas instituições bancárias, ao invés de estratégias que servem apenas para atingir resultados hoje sem se preocuparem com o amanhã, sendo que geralmente são estas instituições que em crises tão graves como a actual, sofrem mais as consequências.

Rebelo de Sousa